6.8.11

Terminal da TWA em JFK, Nova York: asas de gaivota de Saarinen devem virar hotel



Vivemos na era do downsizing aéreo: poltronas na classe econômica cada vez mais apertadas e companhias aéreas oferecendo cada vez menos a bordo, e cobrando até pelo uso de cobertores, travesseiros e até fones de ouvido. Por isso é notável o movimento da americana Jetblue na contramão da mentalidade muquirana. A empresa gastou nada menos que 800 milhões de dólares para construir seu Terminal 5 no aeroporto John F. Kennedy, inaugurado em 2008 – e no processo, consolidou sua imagem eco-consciente e tecnológica.


Luz natural! Wifi grátis! Restaurantes superdescolados! Acabo de voltar de Nova York, voando de Jet Blue, e posso atestar que o terminal tornou minha viagem infinitamente mais tranquila e divertida.
O T5, inaugurado em 2008, foi desenhado com incrível bom gosto e pensado para transmitir uma sensação de calma. Espaço de sobra. Pé-direito altíssimo. Pouco barulho. Detalhes que fazem toda a diferença!

Impressionam a qualidade de seus restaurantes – um espanhol, um bistrô, um japonês – todos com décor e design bacaníssimos – e a abundância de toques hi-tech. As estações para check-in self-serve, cada vez mais comuns em todos os aeroportos, são onipresentes, claro. Mas a computadorização vai muito além daquilo... Há vending machines, por exemplo, que ao invés de conterem batatas chips e refrigerantes, vendem iPhones e iPods. Operadas pela Apple, as máquinas vendem grande variedade de gadgets para macmaníacos, bastando passar o cartão no leitor e alguns cliques na tela sensível ao toque (touchscreen) para levar o brinquedo para casa.

Ainda mais incrível é o restaurante virtual Re:Vive, que consiste em algumas banquetas alto-design de frente para touchscreens mostrando convidativas fotos de pratos e bebidas. Basta tocar a opção escolhida com o dedo, passar o cartão e sentar ali mesmo para ler o jornal. Em dez minutos surgirá um garçom sabe-se lá de onde com a comida, embalada para ser levada a bordo ou aberta ali mesmo.



Quem diria: justo a companhia americana que associa sua imagem a passagens baratas é dona do mais belo e moderno terminal de JFK! Outro grande trunfo: o T5 conecta-se por passarela ao famoso terminal da extinta TWA, hoje fechado ao público mas ainda bem visível a quem chega em Nova York de Jet Blue. Desenhado por Eero Saarinen para lembrar asas de gaivota em voo, o belíssimo TWA Flight Center já apareceu em vários filmes de Hollywood (inclusive o delicioso Prenda-me se for capaz, com Leonardo di Caprio).

Eventualmente o terminal – maior símbolo dos anos dourados da aviação – será reaberto, provavelmente abrigando um hotel butique. Se hoje já dou preferência à Jet Blue ao comprar passagem para Nova York, o dia em que seu terminal de JFK der acesso a um hotel instalado em pleno TWA Flight Center, não tenham dúvida que viajarei um dia antes só para me dar o luxo de dormir sob as asas aerodinâmicas de Saarinen.

Montreal no verão: agosto é mês de sol, calor, balada e parques




Viajo tanto, vejo tanta coisa pelo mundo afora, que acabo me esquecendo de falar do meu próprio quintal – que não é qualquer quintal, diga-se. Divido meu tempo entre São Paulo e Montreal - essa segunda, uma cidade absolutamente apaixonante durante os meses de verão e outono. Quando conto para pessoas que moro em Montreal, a primeira coisa que perguntam é como eu aguento o inverno. Acho que poucos se dão conta de que o frio intenso dura quatro ou cinco meses apenas. No resto do ano, Montreal tem um clima super agradável e muito sol.




O mais divertido é que quando a neve derrete e as flores voltam a brotar, as pessoas já estão para enlouquecer, num fenômeno chamado cabin fever (espécie de febre figurativa de tanto ficar dentro de casa). Resultado: assim que o clima permite, em maio, passam seus dias e suas noites nas ruas e nos parques. Por isso a cidade tem um vibe único e os turistas sentem a vida pulsando a cada esquina e em cada praça.



Não estou exagerando: nunca vi uma cidade com tantos barzinhos e cafés com mesa na calçada (nem mesmo Paris), ou tantas ciclovias. Nos meses quentes, muita gente prefere ir ao trabalho ou à faculdade de bicicleta, também para aproveitar o sol e o ar fresco (pega até mal insistir em se locomover de carro). A partir de maio, proteções de inverno vão para armazéns nos porões, portas-balcão se abrem e as mil e uma terrasses são reabertas: todo restaurante tem a sua. Nos fins de semana, os locais lotam os lindos parques da cidade, estendendo panos na grama para seu piquenique ou percorrendo os muitos quilômetros de trilha a pé ou em patins in-line.



O mais bonito dos parques é também o que dá nome à cidade: Parc Mont Royal. Montreal se chama assim porque tem, de fato, um monte, ou um cocoruto no meio da ilha, com uma cruz no cume. Esse monte é habitado – até um certo ponto. Ali ficam as mansões mais lindas.

E lá no alto está o parque, com mil e uma trilhas para caminhada, uma lagoa frequentada por castores (aqueles bichos dentuços de rabo rugoso típicos do Canadá) e um mirante. Na parte do parque que bordeia a Avenue do Parc rola, aos domingos, o chamado Tam Tam Jam. Uma galera jovem e desencanada vai chegando, com tambores, pandeiros e outros instrumentos, e lá pelo meio-dia começam a fazer uma batucada improvisada, que vai mudando de ritmo e intensidade e tem um efeito quase hipnótico. Os menos musicais dançam ao redor.




Outro pedaço da cidade que desabrocha com a chegada do calor é Vieux Montréal, o centenário bairro de ruelas estreitas às margens do Rio São Lourenço. Antes armazéns, seus antiquíssimos sobrados de pedra hoje são ocupados por galerias de arte, charmosos restaurantes e lojas de souvenirs divertidas onde se encontram chapéus de pele ou mocassins de esquimó.


Seguindo a pé,pela rua de La Comune, que bordeia o parque, se chega ao Marché Bonsecours, com seu belo domo prateado e arquitetura neoclássica, que abriga lojinhas de roupas e artesanato. Um charme!







De Vieux Montréal você pode cruzar uma ponte de bike ou ônibus e ir conhecer a ilha de Notre-Dame, onde fica o cassino (mais de 3 mil caça níqueis, pôquer, blackjack, shows, quatro restaurantes), o circuito de Fórmula 1 e uma prainha artificial muito simpática. Sim, você leu direito: praia artificial, com direito a areia fofa e um laguinho limpo para nadar.



Há ainda um Jardim Botânico no extremo leste da ilha, onde ao cair da tarde acendem mil e uma lanternas de papel colorido no pavilhão chinês, um verdadeiro espetáculo. No verão, Montreal não pára: batucada, piquenique e trilhas de bike de dia, e festivais sem fim à noite.

A ferveção atinge o nível máximo durante o Festival de Jazz, que acontece em julho.



São mais de 500 shows, incluindo muitos gratuitos e ao ar-livre, indo de afrobeat a música árabe. Tudo isso num calor de 25 graus, temperatura média em julho. Vejam só essa vídeo-reportagem que fiz sobre o festival e onde comer ali perto:




Se você pensava que era só um presepiozinho gelado e civilizado, passe um dia de verão curtindo o burburinho na rua Crescent e depois me diga: essa é ou não é a cidade mais fervida da América do Norte?

Ainda duvida? Olha só como fica a rua Crescent no verão:







Enotria por Joachim Koerper: restaurante novo na Barra da Tijuca

chef Joachim Koerper         Foto: Divulgação

Antes de mais nada, deixem explicar o vago "europeu" do título: o chef Joachim Koerper, alemão, já morou em diversas partes da Europa e hoje comanda o restaurante lisboeta Eleven, ao lado da mulher brasileira, a também chef Cíntia Paiva Koerper. Fala um português perfeito, apesar do sotaque.

O Eleven, membro da associação Relais & Châteaux, está entre as melhores mesas de Lisboa, embora alguns o considerem irregular e tenha perdido há alguns meses sua estrela Michelin. Quando almoçei lá, em 2010, estava simplesmente maravilhoso - mas devo dizer que sentavam-se à minha mesa ninguém menos que os próprios Joachim e Cíntia... :) Pareceu-me uma cozinha clássica perfeitamente executada e felizmente rejuvenescida pelas influências que Koerper integrou ao seu repertório ultimamente – principalmente ingredientes brasileiros como o feijão de Santarém, apresentado por Cíntia, que é paraense.

Restaurante Eleven        Foto: Divulgação
Além de Koerper, Lisboa não tem muitos chefs de projeção internacional. Eu diria que os mais famosos são José Avillez (protegido de Ferran Adrià), Leonel Pereira (do restaurante Panorama, no Hotel Sheraton) e Vítor Sobral, proprietário da Tasca da Esquina (que acaba de ganhar filial paulistana) e quiçá o mais famoso dentre os tugas para o público leigo.


Chefs Ferran Adrià e José Avillez, no El Bulli, em 2010

Fazendo grossas comparações para ilustrar mais facilmente o ponto, eu definiria os principais chefs trabalhando hoje em Lisboa  assim: Avillez e Lujbomir Stanisic (100 Maneiras) fazem alta cozinha tecnoemocional com referências emotivas de Portugal; Leonel Pereira (Panorama), um pouco mais conservador, moderniza sabores portugueses e às vezes os salpica com pitadas de Brasil, país onde já viveu e pelo qual tem paixão; Luís Baena (Manifesto) provoca e faz rir clientes com pratos servidos de modo ultrainusitado, como um Ferran Adrià não tão minucioso e em versão bistrô. Menos vanguardista, porém com uma pegada absolutamente 2010, Henrique Sá Pessoa (Alma) cozinha seguindo a escola clássica-with-a-twist dos chefs que mais admira, Gordon Ramsay e Marco Pierre White, incorporando ingredientes portugueses. Koerper está para os outros como Laurent para a gastronomia paulistana, a grosso modo.


Agora, Koerper tentará a sorte no Rio. Sonho antigo desse apaixonado pelo Brasil (e sua brasileira!), o chef chegará timidamente, assumindo o comando do já existente Enotria, agora rebatizado de Enotria por Joachim Koerper, no Casashopping da Barra. Ele trará quase toda a aquipe da Europa, inclusive somelier e cozinheiro. Aguarda as louças e equipamentos e liberação do visto de trabalho de todos para poder inaugurar, o que acontecerá provalvemente em setembro.


E ele já tem um segundo projeto na manga, que se chamará A Cozinha de JK. Deverá abrir no ano que vem. Esperemos que não na Barra, e não em shopping center!!



O blog português Mesa Marcada disse o seguinte sobre esse assunto:
"O Eleven é a minha casa", garantiu Joachim Koerper ao Mesa Marcada, "e é lá que estarei na maior parte do tempo". Por falar em Eleven, há também mudanças importantes na equipa, com o chefe permanente, Gonçalo Costa, a rumar também ao Brasil, para trabalhar em São Paulo, não sabemos ainda onde. Para o seu lugar, Koerper foi buscar o espanhol Pedro González, com quem já tinha trabalhado na Posada de la Abad, em Palencia (Castela e Leão), e que agora estava no Hangar 7, em Salzburgo, famoso restaurante da Red Bull. Vamos ver se traz nova energia a este óptimo restaurante, que, com estrela ou sem estrela Michelin (não é provável que a reconquiste este ano, para mais com estas mexidas na equipa) continua a ser uma referência em Lisboa e em Portugal.

Eleven: Rua Marquês de Fronteira, Jardim Amália Rodrigues, Lisboa, Tel. 21 3862211 
Enotria por Joachim Koerper:  Casashopping, Bloco G - Segundo Piso, Av. Ayrton Senna, 2.150, telefone:  (21) 2431-9119
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